Alma de Poeta
Tem andado vazia
Minha alma de poeta
Há palavras em minha mente
Rolando ladeira abaixo
Mas nelas não há melodia
Organizam-se, as palavras, em pares
Mas elas não dançam
Afinam-se como se fossem instrumentos
Mas não sai delas qualquer som
E mesmo que sejam servidas num prato
Seu sabor não é doce nem salgado
Não é azedo nem amargo
Seu sabor é tão insípido
Quanto os lábios do poeta
Que esqueceu-se de sentir
Seu tempero é de despedida
Marcado com aquele tipo de fim
Que nem mesmo deixa cinzas para recomeçar
Tem andado solitária
Minha alma de poeta
Tantas coisas acontecem
Mas nenhuma delas inspira poesia
Há tantas pessoas ao redor
E minha alma continua intocada
Como se eu fosse por demais intangível
Ou desinteressante demais
Para desperdiçar o valioso tempo alheio
Ou, ainda, interessante demais
Para desperdiçar com outros minha valiosa existência
E quem sabe por quanto, quanto tempo
A arrogância manterá minha alma
Presa à solidão?
Quem entenderá quão vazio é
Não ter medo de nada,
Não ter medo de perder tudo
Por não se achar merecedor de ganhar?
Quem poderá dizer
Quando vou parar de fugir de mim mesma
Quando vou parar de me perseguir?
Tem andado confusa
Minha alma de poeta
Há melodia nas dúvidas,
Nos ciclos eternos que me giram feito carrossel?
Há melodia nas interrogações
Que acompanham todas as minhas palavras?
Haverá melodia em algum lugar
Nesse Universo carente de sentido?
Imersa na insensibilidade
Minha alma de poeta morre lentamente
Imersa no vazio
Não mais sente que se pode reerguer
Imersa na solidão
Por quem, por quem irá lutar?
Imersa na confusão
Morre suavemente, morre covardemente
E num funeral temperado de nostalgia
Qual será, me pergunto, que irão tocar
A melodia?