Pingar
Da caneta pingavam poesias
Dos olhos pingavam tristezas
Em forma líquida,
Em gotas de lágrimas
Da letra desenhada no papel
Pingavam emoções esquadrinhadas
De semântica, letra e suor.
A mão quase trêmula
Hesitava
Em escrever e
Aparar as lágrimas que saltavam
Do rosto e caiam retas sobre o papel
E o papel umedecido transformava
A esquadrilha da rima perfeita
Em arte moderna e abstrata
Seguiam-se borrões
Que antes eram palavras,
Sentimentos e,
Que agora eram vestígios de lágrimas
Queria clonar os bons momentos
Passar no vídeo de minha lembrança
Para deter aquele choro incontido
Escondido
Embarcando em avião
E, depois o roncar das turbinas
Acelerar minha autoestima,
Massagear meu ego
E espreguiçar uma preguiça
Que nunca me permitir ter
Criar clonar você
Num vaso de cactus,
Num bonsai
Num aquário sem peixes
Para na solidão sólida
Do espaço entender sua geometria,
Decifrar sua trigonometria
E desfiar sua metafísica como
Que desfiar cabelos mortos numa escova
Mas o cactus é um mistério
É um deserto de sombras , areia e dunas.
Mas o bonsai é miniatura enigmática
De planta, vaidade e praticidade
E, minha solidão um piano de cauda
A se ajeitar no espetáculo
No verniz preto, sob discreto foco de luz
Mas, quando se retira o primeiro som
Do piano
Ele se revela.
Ele se desnuda
Secam-se as lágrimas,
Cessam-se as artes modernas
E a clave de som
Representa um ícone de lógica
E racionalidade.
No final do primeiro ritmo
A síncope desesperada busca fôlego
Uma mão encontra a outra
E seguem juntas tecendo
Poesias surdas,artes imaginárias
Tricôs, crochets,
Tramas femininos a ilustrar
Dramas pequeninos ou não
Diante das agulhas e do tempo.
Na aterrisagem já sentia saudades das nuvens
Ao primeiro impacto das rodas no chão
Voar era mágico
Voltar era cíclico
E chorar era compulsivo.
Guardarei meu comedido estoque de sorrisos
Só pra mais tarde.