Queria contar de mim
Meus umbrais.
Minhas chaves e lágrimas
que ficaram guardadas.
na gaveta do sentimento.
Queria contar de meu corpo.
Como cresceu, como floresceu
e um dia cessou.
Como a veia que estanca.
Como o sangue que escurece.
Como a vista que conheceu a treva
antes do apogeu.
Queria.
Mas as palavras emudeceram-se.
Ficaram riscadas dentro de mim.
Uma a uma.
Riscadas de vermelho.
Riscadas de luto.
Inutilizáveis.
Os signos e a semântica trairam
a magia do olhar.
Pecaram contra a
cumplicidade.
Fizeram um pacto de silêncio.
No monastério da dor.
Dor profunda.
Pungente.
Aguda e silente.
Que corrói os ossos.
Que se infiltra nos flancos.
Indefesos de fêmea ferida
e sem crias.
Queria contar.
As palavras calaram-se
num ritual ininteligível.
Num balé de agonia e
sadismo.
Cortar os pulsos.
Tomar todos os soníferos.
Esquecer da vida e
bater a porta.
Abrir o gás.
Nada disso, adianta.
A vontade era um conto.
A verdade mesmo está
sozinha sentada num canto.
A sugar a luz de lamparina.
A pedir com pires a piedade alheia.
Porque a autopiedade já lhe
alimenta mais...
Queria contar um pouco de mim.
Talvez gostasse.
Talvez aceitasse.
Tudo e a todos.
Não ao mesmo tempo.
Mas, em fragmentos diários,
sucessivos e eficazes.
Até que um dia...
Sem haver mais mistérios.
A luz brilhasse tanto,
mais tanto
que a cegueira viraria
poesia.
Meus umbrais.
Minhas chaves e lágrimas
que ficaram guardadas.
na gaveta do sentimento.
Queria contar de meu corpo.
Como cresceu, como floresceu
e um dia cessou.
Como a veia que estanca.
Como o sangue que escurece.
Como a vista que conheceu a treva
antes do apogeu.
Queria.
Mas as palavras emudeceram-se.
Ficaram riscadas dentro de mim.
Uma a uma.
Riscadas de vermelho.
Riscadas de luto.
Inutilizáveis.
Os signos e a semântica trairam
a magia do olhar.
Pecaram contra a
cumplicidade.
Fizeram um pacto de silêncio.
No monastério da dor.
Dor profunda.
Pungente.
Aguda e silente.
Que corrói os ossos.
Que se infiltra nos flancos.
Indefesos de fêmea ferida
e sem crias.
Queria contar.
As palavras calaram-se
num ritual ininteligível.
Num balé de agonia e
sadismo.
Cortar os pulsos.
Tomar todos os soníferos.
Esquecer da vida e
bater a porta.
Abrir o gás.
Nada disso, adianta.
A vontade era um conto.
A verdade mesmo está
sozinha sentada num canto.
A sugar a luz de lamparina.
A pedir com pires a piedade alheia.
Porque a autopiedade já lhe
alimenta mais...
Queria contar um pouco de mim.
Talvez gostasse.
Talvez aceitasse.
Tudo e a todos.
Não ao mesmo tempo.
Mas, em fragmentos diários,
sucessivos e eficazes.
Até que um dia...
Sem haver mais mistérios.
A luz brilhasse tanto,
mais tanto
que a cegueira viraria
poesia.