Brincos de pérola
Procuro na rua um endereço
Tenho uma encomenda para
alguém que vi uma única vez
Deparo com uma casa simples
Desconfortável, sub esquina
Meu intuito nessa missiva
Deixar a encomenda sem
me prender aos dramas da
destinatária. Ledo engano,
Uma senhorinha abre a porta
Dificuldade de locomoção
Me recebe chorando,
lágrimas excedente
Num rosto que ainda
mantém os belos traços
Ainda tem a elegância da juventude
Setenta e sete anos, renegada pelos
filhos, abandonada à própria sorte.
Conta-me dos tempos áureos e da atual escassez
fico deslumbrada com sua beleza
fixo o olhar em seu brinco de pérolas
duplas que ornam suas orelhas, percebo a legitimidade
das mesmas. Traços finos, dentes bonitos
Um olhar triste, tanto quanto o ambiente sombrio
Que habita, não dá pra imaginar que já teve
como clientes de estética a alta classe rondoniense
Pelas minhas contas vinte anos já se foram
E não tem um lar, um aconchego
Alguém que se importe que dê guarida
Na minha cabeça um emaranhando
de pensamentos me torturam:
Que lógica doida é essa da vida!
Filhos que abandonam um ser tão frágil
Independente do passado merecem a pena
capital!
Oh! como isso me faz mal!