NADA MAIS QUE SOLIDÃO # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

NADA MAIS QUE SOLIDÃO # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

*

O poeta vai à sacada

e lança os olhos à rua,

seco de novidades,

de algo que ressuscite

a sua alma

exaurida em solidões,

e só após um longo tempo

olhando para a rua

com seu olhar andarilho

se toca de que ela está deserta,

tão deserta quanto a alma do poeta,

sem ninguém sentado ao meio-fio

ao lado de alguém a postos

para ouvir-lhe as abobrinhas,

sem as levas de crianças

naquele corre-corre nervoso

do pique-esconde, do pique-parado

ou do foge-foge da molecada

que lá vem pai, mãe, sei-lá-mais-quem,

abedunhar o que estão fazendo...

sem nenhuma roda de alterocopistas

concentrados no objeto de adoração,

absortos no mundo de Dioniso,

até verem o olhar frio de Tânatos

lá no fundo dos copos,

mas para quebrar o gelo,

surge um cão perambulando,

meio que perdido, ziguezagueando,

farejando a esmo

pra despistar-se de si mesmo,

até que um gato camuflado

na turbidez sob um carro

salta sobre ele

e a madrugada pega no tranco.

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Antonio Cabral Filho
Enviado por Antonio Cabral Filho em 01/03/2014
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