Solidão
Não há cadeira cativa em torno de mim,
Só meu próprio vulto e minha sombra...
Ah, isso quando os consigo perceber!
Há um vazio sem forma,
Um vácuo impreenchível
Um deserto incolor...
Sei que sou essência,
Pois, toco-me, apalpo-me, penso...
Sinto-me gritar em meu íntimo
Às vezes choro um choro sem olfato,
Mas as lágrimas teimam em ficar oclusas,
Distantes dos meus olhos,
Apenas queimando minhas pálpebras
E inundando meu âmago de melancolia...
Minhas palavras se perdem
Num espaço sem teto
E a natureza absorve meu éter...
Meu raciocínio é um torvelinho
Insensível, por vezes dócil,
Contudo infinitamente inofensivo...
As paredes não me escutam
E o eco de minha voz é imperceptível...
O travesseiro não dialoga comigo,
O mundo de mim vive afastado, longe,
E não há comunicação entre nós...
Caminho alhures pelas estradas
À cata de um pássaro
Que, com sua melodia, possa
Finalmente sentir que estou vivo,
Todavia nem isso tenho...
Estou ilhado, as águas são turvas
E talvez já não consiga nadar...
Nadar? Até onde? Para quê?
Há uma ausência de tudo
Em derredor de mim...
O amor perambula distante,
Saudade não sei o que é...
O que é mesmo saudade?
Adiante esbravejar? Correr?
Não!
Alimento-me do meu
Próprio instinto e estou magro,
Com uma sede sem nome,
No entanto louco para que me toquem,
Para que me vejam, para que me sintam,
Afinal meu coração pulsa
E precisa desvendar o sinal
A fim de que não enlouqueça
Dentro deste labirinto em que me encontro
E que se chama solidão!