À Luz de Velas
A noite está cobrindo tudo
Mas as velas continuam acesas
Iluminando meu rosto em algum tom de dourado
Olhos sem vida encaram um reflexo
Esperando que ele diga o que há de errado
Descartei qualquer maquiagem
E enfiei-me em alguma roupa sem graça
Não quero parecer bonita
Não quero ser o centro brilhante
De atenções mal-intencionadas
Quero apenas afastar os olhares assustadores
E lembrar que, no fundo, fui feita para a solidão
Sopro as velas com raiva
Mas elas não se apagam
Ainda há uma faísca
Um brilho irritante que não que se extinguir
O reflexo ri, malditamente sarcástico
Apenas para me lembrar das ilusões que alimento
Os olhares assustadores continuarão lá
E a eterna maldição prossegue
Atraindo quem deveria manter-se longe
Afastando quem deveria ficar
As atenções que um dia quis agora vão me sufocar
E a boa menina que um dia existiu
Não poderá mais voltar
Apaguem as velas
Deixem-me dançar na escuridão
Deixem que a beleza preencha os cômodos
Que os olhares assustadores jamais vão ver
Na solidão do breu, deixem-me ser eu
Porque na claridade do dia
Gelo é a única coisa que verão
Os braços frágeis que dançam à luz pálida das chamas
Permanecerão escondidos
E os olhos frios e inalcançáveis cobertos de maquiagem
São tudo o que sairá do quarto
A noite é quente e aconchegante
Mas meu verdadeiro eu permanecerá um mistério para todos
Enquanto danço sozinha à luz de velas