mil retas
a reta intercepta a outra reta
dando fim ao infinito das duas
e, na intersecção com
outra reta
lhe confessa os segredos
do côncavo e o convexo
lhe confessa ainda tonta
o prazer de lhe cortar
de lhe fazer sangria
e de lhe livrar da
reticência maldita
da imprecisão,
da vastidão do
espaço insólito
uma reta não é caminho,
é atalho
uma reta não é causa
é apenas começo
que se esgueira à beira
de abismos geométricos
do cone piramidal,
do trapézio irregular
onde não há malabarismo
há um profundo silêncio
matemático
contido
dentro dos polígonos fechados
e no peso do papel
não há gramas
há somente poesias ausentes
disfraçadas de branco
sob o mimetismo
de olhos, bocas, mãos e vidas
vidas traçadas em reta que seguem
em direção ao
lirismo
mais uma encruzilhada
antecipa o encontro de duas retas
antecipa o fim do infinito
antecipa a alma ao corpo.
alma espetada por mil retas.