mil retas

a reta intercepta a outra reta

dando fim ao infinito das duas

e, na intersecção com

outra reta

lhe confessa os segredos

do côncavo e o convexo

lhe confessa ainda tonta

o prazer de lhe cortar

de lhe fazer sangria

e de lhe livrar da

reticência maldita

da imprecisão,

da vastidão do

espaço insólito

uma reta não é caminho,

é atalho

uma reta não é causa

é apenas começo

que se esgueira à beira

de abismos geométricos

do cone piramidal,

do trapézio irregular

onde não há malabarismo

há um profundo silêncio

matemático

contido

dentro dos polígonos fechados

e no peso do papel

não há gramas

há somente poesias ausentes

disfraçadas de branco

sob o mimetismo

de olhos, bocas, mãos e vidas

vidas traçadas em reta que seguem

em direção ao

lirismo

mais uma encruzilhada

antecipa o encontro de duas retas

antecipa o fim do infinito

antecipa a alma ao corpo.

alma espetada por mil retas.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/04/2007
Código do texto: T468157
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