TEMPO AGRESTE, AGRESTES PENAS
Chega hoje a Primavera
baloiçada pelo vento
ver-me livre, quem me dera,
deste triste pensamento.
Está nova a natureza
com paisagens geniais
só não sinto a certeza
se s’ ausentam os meus ais.
Há correntes de águas finas
deslizando pelos campos
vão crescendo cristalinas
as saudades de meus prantos.
Muitos são os males do mundo
que se vêem no horizonte
em minh’ alma, bem no fundo,
só m’ espelha a tua fronte.
Não tenho comigo as fadas
p’ ra ser mais sentimental
no vazio das madrugadas
tuas penas são o meu mal.
Sofro, assim, feito poeta
por aqui abandonado,
a minh’ alma está deserta
com o fantasma deste fado.
Há tormentos que despertam
a procura de lembranças
os meus sonhos nunca acertam
e até parecem crianças.
Ó vento, qu’ amigo és,
e entendes estas verdades,
varre bem de lés a lés
da minh’ alma as saudades.
Não sei se é a minha amada
a sombra que tenho de ti,
pareces mais desprezada
do qu’ outrora quando te vi.
Primavera, vida minha,
sois as duas uma só
a paixão que s’ adivinha
será amor ou será dó?
Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE