Separação
Ainda não fechei a porta
para que o sonho não fique lá fora;
apenas fechei os olhos
calei estes beijos que insistem em queimar
cada vez que te escuto
dizendo tolices que nem sei ouvir.
Meu mundo é maior sem você aqui.
O silêncio me corta,
o vazio me invade,
a cama tornou-se um espaço sem fim.
Tudo está sobrando quando abro a porta,
tudo está faltando aqui dentro de mim.
Ontem reclamaste a desordem da casa
e ao abrir os olhos
não eras tu entre as paredes da casa,
era esta fria e zombeteira amiga
que vem me dizer o quanto estou só.
Ainda não fechei a porta da sala
porque faltam forças no fundo de mim
para saber-me culpada de que esteja aberta,
sem chave, sem trinco,
sem cadeado ou corrente que a faça ranger,
que me avise quando decidas voltar.
Como poderei fazer-te poesia
se não tenho teu cheiro para recitar?
Como achar notas para cantar tua boca, se a solidão é a lâmina suave
que na madrugada sinto a me beijar?
Ainda não fecharei a porta de minha espera
porque o amor que não dorme, por diversas noites,
ao achá-la aberta,
veio à minha cama para se deitar.
(G.C.F. - Belém, 15.02.07)