solidão pálida
solidão sai do meu quarto
vestida de luto
atravessa a sala,
vai até à cozinha
e pára.
solidão entra distraída no quarto dos livors
e se esconde nas prateleira
e se expande pelas janelas
que escurecem os dias,
fechadas a espreitada do silêncio
a solidão dos pássaros
que nãocantam
piam apenas tímidos
na saudade de um eco
solidão da mão tropega,
de pernas bambas,
de duplos pés esquerdos
que teimam em tropeçar ante
o abismo.
solidão
do soluço em meio ao deserto
solidão dos olhos vendados
que insistem em ver a solidão alheia
solidão de mãos eternamente atadas
e que qurem desatar todos os nós
solidão dos lábios cianóticos
sem, ar,
da lágrima contida no
último canto do olho
solidão do sorriso enigmático da monalisa
que perpetua o enigma,
solidão em estar só,
em só estar
e não ser.