O Mar
O Mar.
Vi um filme, documentário, que mostrava o mar
com todo o seu poder, sua força e grandeza.
Ondas enormes se arremessavam contra os quebra mares de
atemorizadas cidades costeiras e faróis solitários, tristes sinalizadores, de pontos geográficos corretos, que só importam àqueles que procuram um rumo para o seu destino.
A água explodia toda sua tensão contida, contra a terra que ousa tentar conformar sua massa líquida,
como um ato de radical rebeldia contra uma arbitrariedade cruel,
que tenta impor limites e fronteiras para o elemento
mais importante e mais abundante para a sustentação da vida.
Nosso planeta, já disseram, não devia se chamar Terra mas Água.
O mar é belo, é verdade.
Pode ser cruel.
Inspira canções e poemas com suas paisagens cambiantes,
que recria a cada instante, com o balançar das ondas, com o vento arrepiando sua superfície de cores várias.
Capaz de seduzir pelo encanto aterroriza quando se enfurece.
Aí só se pode esperar que sua fúria cesse,
que seu poder, cansado de exibir-se, volte a tranqüilidade
em que se pode navegar...
Como faço agora, isolado no alto das montanhas,
tendo matos e campos por companhia,
mas com saudade imensa do balançar,
do gosto de sal, do vento, do cheiro de tinta e óleo,
do azul/verde que enxergo na proa do meu navio,
que está sempre a navegar. Nunca deixei o passadiço nestes anos todos,
atento ao rumo que a carta, o compasso e as réguas paralelas
não conseguiram,nunca, traçar.
Mais um sonho que se esvanece a cada alvorada, no quarto d’alva, tornando suas imagens difusas, difíceis de reconhecer,
mesmo as recordações que, sempre presentes, induzem freqüentemente dor,
raramente alegrias de momentos intensamente vividos, no mar...
Então se espera o surgimento das estrelas para,
ainda percebendo o horizonte, de sextante à mão,
se possa, uma vez mais, tentar se localizar à procura de
um rumo e um destino, ao menos um porto seguro aonde
cansado, frustrado, se possa, finalmente, fundear...
Eurico de Andrade Neves Borba, Ana Rech – Rs, dezembro 2013