Natal na Serra.
Aqui estás como sempre estiveste antes,
vista a olho nu, ou microscopicamente,
procurando um lugar aceso
na tua insana mania de escavar teus dilemas à unha.
Ampara-me com a tua palavra nessas pequenezas
de teus armarinhos, luzes fugidias
e se houver alguma esperança me oferte uma...
Disse um dia ao meu pai "um bom Natal",
e hoje não sei como seria o seu rosto de velho.
A vida, ou um cão mordendo o móvel, ou um cão lambendo o pé.
Eis que estamos agora diante da fresta do mundo,
e por ela vejo um quintal:
pé de tamarindo, jaca, jenipapo,
tão doce amargor, frutas de uma infância na Ilha.
Mas minhas saudades de hoje vem de um Natal na Serra,
clara evidência de que o tempo escoa.
E sem saber da minha ou da tua fadiga noticiada,
se precisamos muito de um sono que nos restaure
a mal dormida noite,
o sol assim brilha na esplêndida vertigem do dia.
Nele coo meu pó de acordar sempre alerta
e saio às ruas armada, o de sempre.
Patrícia Porto
Imagem: arte de Vic Meirelles