CAIS INÓSPITO - A OMAR R.,amigo
NA MADRUGADA DE 04 DE DEZEMBRO DE 2013
Tenho um amigo
de adolescência
que vim a reencontrar
na anoitescência,
em um sítio da internet.
Tenho um amigo
que hoje guarda o próprio nome
em um cofre de segredos
ou o guarda como o segredo de um cofre
que ele não revela nem a si mesmo.
Esse amigo
diz que quer falar comigo
que só comigo
consegue partilhar
seu dialeto
mas, eu, que perdi em mim
todas as línguas que me falavam,
hoje
idiomas de outros mundos,
olho para o meu amigo Omar
- ele se rebatizou como Omar -
e calada fico
e calados ficamos
até que ele, meu amigo Omar,
assim rebatizado por si mesmo,
se afaste com seu e-mail
e-mail navio que se afasta
de um cais inóspito –eu.
Perdoa, amigo Omar.
Tenta guardar de mim
a imagem
daquela doce menina
que eu fui...
que um dia eu fui, Omar.
Lembra de mim
lembra também de um ser do meu sangue
lembra de nós, três amigos, no cinema...
lembra de Francisco e de Clara.
Lembra, Omar. Lembra.
Só o que vale é lembrar.
O presente... ah, amigo,
ah, meu caro amigo Omar...