Vicente
andava devagar, divagando pelas ruas. Se perdendo como uma noiva nua.
Vicente, vivente. Forte nome, de gente brava, trabalhadora. Gente que não foje o perigo.
Vicente. Soa tão forte que chega a ser arrogante. Vi-cen-te.
Duro feito pedra.
Vicente, vicentino, vicentinho.
Duro, bravo, arrogante, exigente, sensível.
andando por horas e horas em ruas sem uma viva alma, com o tempo no braço e as estrelas na mente, mente em uma triste história, poemas em palavras que não existem. Vicente. Talvez nem ele mesmo existisse, não sabia, mas dóia, na alma, na carne. Dóia de uma dor tão demasiada que ele se contorcia jogado na areia, mas estava em pé. Caminhando. Na rua escura, nas ruas escuras, sempre caminhando; chutava pedras, batia em murros, arrancava folhas das arvores e continuava caminhando com elas em mãos. Mas estava alí, sempre caminhando. Sem parar. Nem pra beber água. Era seu vício: caminhar… E pensar, em demasiado pensar.