SABOR DO FEL
Noite alta, eu sem sono,
desilusão no olhar.
Esqueço quem sou, me abandono,
manhã que custa a chegar.
Madrugada que se arrasta,
na cama, imenso vazio.
De mim, esta dor não se afasta,
vento a soprar, tenho frio.
Sons desencontrados na rua,
gemidos ecoam no escuro.
No meu quarto brilha a lua,
o pranto, no peito, seguro.
Ao longe, o sol já desponta,
me avisa que devo seguir.
Corpo que não se dá conta,
sem forças pra reagir.
E assim mais um dia amanhece,
olhos lançados ao céu.
Um sopro de voz numa prece,
na boca, o sabor do fel.