Supernova
Como uma estrela
Pela vida eu passei
Como uma estrela
Sem brilho
Sem cor
Sem cheiro
Sem sabor
Como uma estrela
Como uma supernova
Eu queimei
Como um colosso
Como um titã da antiga mitologia grega
Como um Prometeu me aprisionei
E todas as promessas que prometi
Nenhuma eu realizei
Pela vida eu passei
Como uma estrela furiosa
Minha vida eu queimei
E agora
Aos vinte e poucos anos de idade
Sinto a velhice pesando em mim
A velhice da alma
A velhice da vontade
A eterna preguiça e descaso de uma entidade hibernante
Durante o ano todo eu hiberno
Pra acordar somente no Inverno
E como seria bela a vida
Se tudo fosse um infinito Inferno
Uma vastidão branca e inerte
De neve onde eu hiberno
E quando este Papai Urso
Olhar para o céu e avistar a Aurora Boreal
Vou saber que não fui bom e nem mau
Vou saber que não sou nada
E que nunca fui
E quando este Papai Urso
Olhar para o céu e procurar pela Ursa Maior
Vou saber que nunca tive companhia
Seja na terra ou no céu
E quando este Papai Urso
Olhar para o imenso vazio negro do universo
Vou saber que aquela estrela explodindo
Em mil partículas cósmicas de tristeza e solidão
Aquela estrela era eu
Uma supernova
Cheia de potencial
Uma estrela especial
Uma estrela que poderia ter sido
Uma das maiores estrelas do Universo conhecido
E cujo único pecado
Foi explodir cedo demais
...
E agora definho
Minha vida em desalinho
Sinto essa neve caindo pesada
O peso de mil neves passadas
Concentradas num único floco
De neve concentrada
Meu hidrogênio está quase no fim
Sou plasma estelar em estado terminal
Plêiade na constelação de Touro
Involução em seu estágio final
Puro brilho de pureza celestial
Cujo único pecado foi não saber se prolongar
Talvez se eu tivesse aguentado mais um pouco
Pudesse ser uma gigante vermelha
Uma nebulosa, um pulsar
Talvez se eu tivesse aguentado mais um pouco
Pudesse ser Canis Majoris
Ou o mais cruel de todos os Quasar
Mas não, não soube me resguardar
Sou uma anã em estado terminal
Na UTI estelar
Minha explosão não irá afetar
Nem mesmo os planetas de meu sistema solar
Nem mesmo o mais repugnante verme
Do planeta mais perto de mim
Nenhum ser vai perceber quando minha luz apagar
E então o buraco negro de meu coração
Vai se expandir e me consumir
E ninguém mais vai me achar
Pois buraco negro que sou
Vou me confundir com o negro do vácuo estelar
...
Mas por ora
Morro em supernova
E ninguém vai me notar