Órfãos

Colocaram-te à margem, deixaram-te sozinho. Ainda menino, não entendeste a lógica que rege o mundo. Contendeste contigo mesmo os porquês e as razões e jamais tiveste resposta digna. Por isso reclamaste uma atenção que naturalmente não era tua, choraste e precisaste muita das vezes sufocar esse choro, já seco, dentro do teu próprio peito, pois não havia quem o ouvisse. Disputaste com outros pelos momentos únicos de amparo que alguns dispendiam caridosamente, porém ocasionalmente. Por vezes fizeste mal, mas não havia voz amiga que te repreendesse. Mundo cão. Fostes baluarte de ti mesmo na peleja contra o quase inflexível destino. Destino que ninguém escolhe. Ninguém escolhe se vem, ainda mais como virá! Pujante foste tua força, pois desde a mocidade sofreste os estorvos da solidão. Conserva hoje e amanhã teu ânimo, mira teus olhos para o alto, faz o ar entrar e queimar em teus pulmões e segue em frente. Em tempo uma nova fonte rebentará na tua, até então, árida terra.