Mágoa

Mágoa escorre feito água.

E resseca todo o sentimento

por dentro.

É dissecação espiritual.

Mágoa dói baixinho .

Lá bem fundo do

poço da solidão.

Lá fora, além das cercanias.

Para além da montanha.

Do céu e do mar.

O mundo é vasto e confuso.

Mas também

cíclico e previsível.

Tudo que queremos

é dizer sim.

Mas o mundo

só faz nos dizer não.

O amor que eu lhe tinha.

Era uma flor sem primavera.

Era ventania lasciva

sobre as areias do deserto.

Era um fardo bom de vestir.

Cabia feito luva

na minha alma.

Minha alma

que nua era feliz e plena.

Despudorada e sacana.

E, em sendo amante

tornava-se prisoneira

e cativa.

Era evasiva e incontida.

Ansiando pelo bálsamo de

seu olhar.

Alma lavada.

Lavada pelas águas da mágoa.

Enxaguada.

São lágrimas e chuvas.

Oceanos repletos

de tantos desamores

de tantos enganos.

Mágoa marca o espírito.

O deixa a espreita de

vilanias.

Rebela-se contra cortesias.

E só espera a perfídia.

Entende o silêncio rico

em abandono.

Na infinita mágoa.

Restou-me ainda a nesga

de misericórdia.

Não rasguei o seu retrato.

Não lhe apaguei da memória.

Da retina requentada

E platônica.

De fingir ver você,

Quando de fato,

apenas

enxergava a mim mesma

refletida no outro

no convexo hipotético

toreando liricamente

contra paradoxos

na arena do destino.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/10/2013
Código do texto: T4522174
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