A Morte do Canário
E cada parte de mim morre, estremece a cada batida do coração vazio,
A força esvai-se no último cântico daquele velho canário.
Eu então espero pelo adormeço, mas tenho medo, não esqueço,
Porém, doce vida vai embora de meu corpo programado,
Programado para amar, mas nunca ser amado,
Que perambula pelas ruas de tormento e fracasso.
A temperatura sobe, mas não como subia antes,
Antes eu lhe possuía, lhe tinha como um amante.
Nessas noites frias, enrolado em minhas colchas eu lhe tinha,
Noites quentes, me enrolava em teu tronco e ali dormia.
Hoje padeço, nunca esqueço e me revolvo em tormento.
O canário que não canta marca a hora da partida do momento
E eu admiro o último cântico da sua vida.
Agora ele voa por outros caminhos, sem despedida,
E não há cânticos deslumbrantes, não há toques suaves e desnorteantes.
Minha pele clama por seu toque um último instante, mas
Que pele ferida, distorcida pelo amante!
Estás certo em correr atrás da vida, bater asas e fugir à toda esquina
Procuras a vida, escondida na sarjeta sob luz que ilumina,
Mas o que faço se não possuo mais vida minha?
Ela bate asas na esquina, sobe alto até a lua cristalina...
E eu me recolho sob o último suspiro, a temperatura sobe,
A pele arrepia como era com seu toque,
O chão me some aos pés, tremo novamente à enfermidade que explode.
Já passa das 2 e então lhe vejo, asas abertas, sorriso grotesco
Quem me dera não fosse só o derradeiro lampejo...
Mas quem morre ainda tem a chance de renascer pra um gracejo.
Ao som da chuva a me embalar no sossego.