Agonia soturna

Acordei bem cedo no inverno,

neve caindo do outro lado da janela,

frio congelando minha sensibilidade,

solidão entorpecendo meus movimentos,

tristeza se acondicionando em meu olhar,

tornei-me um eremita de crenças perdidas,

fé ou amor deixaram de ter qualquer significado,

para quê esperar, esperar, esperar o nada que jamais virá?

para quê palavras, palavras, palavras sem voz no barulho dos dias?

Alguém descobrirá que a paixão é apenas um artifício vendável,

marketing em profusão nas galerias urbanas,

sonhos esfacelados ao final de um mal traçado início,

isolamento de uma ilha em uma alma atormentada,

melancolia fincando a bandeira de uma vitória derrotada,

transformei-me num fantasma de correntes pesadas,

perdão ou sorrisos sumiram na escuridão,

para quê suplicar, suplicar, suplicar dias de memórias partidas?

para quê amar, amar, amar sem corações em sintonia?

Caminhei por minhas agonias soturnas,

dores de vidas passadas e presentes em finitude completa,

trilhas de espinhos e passagens inglórias,

indiferença de uma multidão cega aos clamores de um tolo,

depressão aprisionada de um velho palhaço sem graça,

vesti-me de arauto de uma morte anunciada,

dias ou noites passam no calendário sem percepção,

para quê segredos, segredos, segredos de uma confiança quebrada?

para quê promessas, promessas, promessas não cumpridas?