a nuvem e a sombra

a solidão é companheira

de horas incertas

inseridas por dentro de vidas

vidas inteiras

a solidão é certeza

tal qual a morte

a finitude entusiasta

a quietude repleta de

pássaros, ventos e lembranças

na solitude diária da rotina

os olhos se cumprimentam

burocraticamente

as mãos brutas

não entendem a delicadeza

da seda, do crepe

os passos solitários desbravam

silenciosos caminhos e abismos

sempre a busca da descoberta

e no céu que só os poetas conhecem

a solidão rima com paixão

intensa pela vida,

rima com retidão,

que liga infinitos

que intercepta nuvens

tempestades,

decifra sombras, sonhos

medos

e diante da clarividência

ou de um rasgo de lucidez

a solidão conforta

nos apontando tanta vida

que há ao redor

e somos parte disso tudo

do alheiamento e do deslumbramento

da humanidade e da crueldade

da multidão e da solidão

que há nos muros, nas cercas

nos livros sobre criados mudos

na mágica de se tornar cúmplice

sem pactos

na licenciosidade de parceiras

que abandonam a solidão egoísta

e compartilham solidões comuns

que podem juntas

esculpir nuvens e sombras

mas sobretudo acender a luz

sobre os horizontes bravios.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/04/2007
Código do texto: T445939
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