a nuvem e a sombra
a solidão é companheira
de horas incertas
inseridas por dentro de vidas
vidas inteiras
a solidão é certeza
tal qual a morte
a finitude entusiasta
a quietude repleta de
pássaros, ventos e lembranças
na solitude diária da rotina
os olhos se cumprimentam
burocraticamente
as mãos brutas
não entendem a delicadeza
da seda, do crepe
os passos solitários desbravam
silenciosos caminhos e abismos
sempre a busca da descoberta
e no céu que só os poetas conhecem
a solidão rima com paixão
intensa pela vida,
rima com retidão,
que liga infinitos
que intercepta nuvens
tempestades,
decifra sombras, sonhos
medos
e diante da clarividência
ou de um rasgo de lucidez
a solidão conforta
nos apontando tanta vida
que há ao redor
e somos parte disso tudo
do alheiamento e do deslumbramento
da humanidade e da crueldade
da multidão e da solidão
que há nos muros, nas cercas
nos livros sobre criados mudos
na mágica de se tornar cúmplice
sem pactos
na licenciosidade de parceiras
que abandonam a solidão egoísta
e compartilham solidões comuns
que podem juntas
esculpir nuvens e sombras
mas sobretudo acender a luz
sobre os horizontes bravios.