Palavras Deglutidas

Foste de mim me arrasando,

rasgando meu peito, me dilacerando,

levando consigo meu lado mais puro,

deixando meu corpo jogado no escuro e sangrando...

Eu tento esconder meu pesar,

tento em ti não pensar,

mas, impossível é conter a lembrança,

não absorver a esperança.

Foste e não dá para crer.

Como fazer pra esquecer?

como fazer pra viver?!...

Sem você é difícil até respirar,

fica impossível sonhar,

pois, mesmo dormindo, me segues,

até invadir os meus sonhos se atreves.

Como conter meu penar?

E lavo meu rosto com lágrimas,

e passam os dias da vida,

friamente passam as páginas

como um livro qualquer esquecido.

Foste e me tens destruído

n'algum canto obscuro e roído,

jogado às traças,

que vão me devorando as letras,

deglutindo as palavras,

que me vão apagando do mundo

um sentimento profundo.

Sei que um dia ninguém vai lembrar,

sei que ainda estarei a chorar,

sei que ainda estarei aturdido

num lamento constante e perdido.

Foste e não sei como crer.

Foste e não quero esquecer.

Talvez te esqueça, quem sabe,

ao morrer.

Júlio Amorim
Enviado por Júlio Amorim em 26/08/2013
Código do texto: T4453217
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.