VIOLA QUERIDA e CONFIDENTE
Viola querida!
Minha viola já não afina,
Com as tarraxas desgastadas,
Onde a mão as guarnecem,
Fazem as cordas se afrouxarem.
A vida deste instrumento,
Que agradou nas audições,
Fraqueja no passar da idade.
Entristecendo-nos seu desvanecer.
Foram tantos anos de convívio,
Desde a nossa formação artística.
Hoje emudece suas cordas,
Neste braço que a sustenta.
Seu corpo em meu colo,
Confidenciaram sons evocados.
Lamento sua velhice precoce,
Que me deixa desamparado.
Não posso mais compartilhar,
Minhas confidencias amorosas,
Nos meus cantos e minhas poesias.
Resta agora sua muda presença.
Sua imagem fica em casa,
Em todo lugar, é vista,
Só não posso tocá-la,
Nem ouvi-la, é só adorno.
Assim me conformo ao seu lado,
Com as lembranças convividas,
Carregando-a em todos os lugares.
Protegendo dos furtos e acidentes.
Você não morre, fica exposta,
A todos que a encontrarem,
Comentando sua sonoridade,
Seu nome, pronunciado e venerado.
Chico Luz
Confidente
Você esta envelhecendo,
Sua saúde debilitando,
Não posso mais confiar
Na sua sanidade mental.
Quantas vezes você pergunta
O que acabo de responder.
Você lembra do passado,
Mas do presente se esquece.
Sua ansiedade nega o presente,
Pra quê pensar no futuro
Se o presente nem chegou?
Olha o passado como é bom!
Veja como foi a nossa vida,
Construída a dois para os três.
Éramos jovens sonhadores,
Com uma longa vida pela frente.
Mas hoje, vemos o futuro,
Tão próximo do presente,
E o passado tão longe,
Bem distante de hoje.
Assim são os nossos dias,
Cheios de impaciência,
Provocações melancolias,
Não sabemos viver a dois.
Pra quem fez juras de convivência,
Na saúde e na doença,
Na alegria e na tristeza,
Não pode ser perjúrio.
Vamos ver nossas falhas
Corrigi-las se possível,
Contemporizá-las
Pois a realidade é tolerância.
Chico Luz