Pulsos e Bacias.

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Precisava hoje de mãos

para amansar a loucura

e amassar o pão

do mesmo fel do joio

de Mãos para romper

em dia as noites que fiz

com doses de beber ventos

para aquietar o inferno

de memórias quentes

de um volumoso mergulho nos rios

mudados de curso

Mãos lavadas

para tocar o corpo inerte

quase entregue ao prazer

antes de sua morte triste

para louvar todos os deuses femininos

que inventei

para exumar

desencarnar

o ódio

e o riso

E todos os ofícios

da violência

E todos os ossos do limbo

mastigados sobre a mesa

Mãos

para estancar

de dentro o mar

de sangue

a porra toda

a vida doce

a sanha o teto

as carnes

Entre dentes

o fervor vaginal

estupor, o tumor

de intentos e os insetos

os cães famigerando

esfomeando,

farejando: a menina

as laranjas cortadas em quatro,

as flores e os bagaços,

os anjos pendurados

para não sentir dor

para não sofrer dor

nossa senhora,

mãe de todas as rezas matinais

"me livre desse mal"

Do teu manto

desesperanço:

a santa é surda

Mãos de dentro

dentro

onde tudo dói

dói o mais

Crucifica

existir fora

Insistir, pai

dói demais

te parir, pai,

puta merda,

mulher de mim

todos os dias

sem nenhum pau

advento ou luz

só com meus pulsos

tua rinha

teus galos

e as galinhas

que tia Marta mata

tranquila

nas bacias

Doeu tanto existir, pai

Patricia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 11/08/2013
Reeditado em 11/08/2013
Código do texto: T4429593
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