É PRIMAVERA LÁ FORA

As águas turbulentas aos poucos se acalmam.

O rio, antes atônito, volta cansado para o seu leito,

Descansando seus braços longos e ferozes.

Pássaros emitem silvos longos e breves,

Em cantata, saudando o novo dia que vem.

O vento ameno lufa as folhagens

E desemboca casa adentro,

Fazendo torvelinho em meus cabelos.

Me vem o cheiro colorido da manhã

Invadindo minhas narinas insones,

Abastecendo meus olhos insones,

Degladiando com minhas dores insones.

Levanto-me da cadeira que geme com meu peso,

Arrasto pés tristes rumo à porta do rancho mudo

E aboio a angústia, tangendo-a para o curral anoitecido.

É preciso estancar o mangue do meu espírito

Que se derrama por dentro, que chora por dentro.

A vida prossegue lenta, fincando suas garras em mim,

Arranhando o coração apartado dos sorrisos.

Preciso refazer meus alicerces combalidos,

Para que minha fortaleza não se esfarele.

Preciso pescar substâncias de sobrevida,

Percorrer trieiros, lavourar mudas de sonhos,

E destilar o vinho bom para brindar boas novas,

Afogando ilusões e desilusões.

Afinal, a vida continua e prevalece acima de ausências;

A vida é pêndulo. A vida é martelo intermitente

Percutindo agudas cadências de esperança.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 25/07/2013
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