...

Parece que desaparece

todo pedaço que juntei.

Cada memória que inventei

vejo se esvair no vento.

Eu lamento. Só eu sei

das dores e amores

que em mim carrego,

das flores e cores

que colho ou prego.

Questão de ego?

Talvez seja

a eterna certeza

de não ser o bastante.

Tudo tão flutuante

enquanto eu aprofundo…

E no fundo eu sei,

que só eu (me) sei.

Trem de um só viajante.

Não me espanta essa senhora

que outrora esteve aqui.

Ousou partir, agora de volta,

dá voltas em mim e repousa.

Não me espanta a solidão

porque eu a bem conheço.

Me assusta o estranho

que a espanta pra longe

sem motivo, sem apreço.

Perco meu sono.

Ele, feito cão sem dono,

vaga por aí e só volta

as tantas, cambaleando,

como um ébrio, desolado.

Retorna magoado e só.

Só por não ter outro abrigo.

Sentamos, os três,

assistindo a obra prima,

a pintura triste do tempo

brincando com a minha rima.

“Menina!” – sussurra a noite,

-”Vá sonhar de olho fechado!”

Olho pro lado…

Parece que desaparece…

Eu, você, o gosto, o clima.

Elen Rodrigues
Enviado por Elen Rodrigues em 03/07/2013
Código do texto: T4369520
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