...
Parece que desaparece
todo pedaço que juntei.
Cada memória que inventei
vejo se esvair no vento.
Eu lamento. Só eu sei
das dores e amores
que em mim carrego,
das flores e cores
que colho ou prego.
Questão de ego?
Talvez seja
a eterna certeza
de não ser o bastante.
Tudo tão flutuante
enquanto eu aprofundo…
E no fundo eu sei,
que só eu (me) sei.
Trem de um só viajante.
Não me espanta essa senhora
que outrora esteve aqui.
Ousou partir, agora de volta,
dá voltas em mim e repousa.
Não me espanta a solidão
porque eu a bem conheço.
Me assusta o estranho
que a espanta pra longe
sem motivo, sem apreço.
Perco meu sono.
Ele, feito cão sem dono,
vaga por aí e só volta
as tantas, cambaleando,
como um ébrio, desolado.
Retorna magoado e só.
Só por não ter outro abrigo.
Sentamos, os três,
assistindo a obra prima,
a pintura triste do tempo
brincando com a minha rima.
“Menina!” – sussurra a noite,
-”Vá sonhar de olho fechado!”
Olho pro lado…
Parece que desaparece…
Eu, você, o gosto, o clima.