Pedido Secreto
Esse mar imenso de ressaca
Diante da minha janela a chorar
Murmurando segredos
que não quis contar
Esse abismo profundo
De trevas e luz intensa
Traz a cegueira e o encontro
Entre o ser e o pensar
Essa dose de gim
Pura e seca
A queimar a garganta
A desinfetar minha poesia
Dessa tristeza indolente
Dessa melancolia lírica
E fugaz.
Essa cor sangrando ao entardecer
Despedindo-se do sol
Depois de tantas batalhas travadas
Das dores esculpidas na alma
Da mão que empunha a espada
Mas é capaz de um afago.
Isso é tanto.
Isso é tudo.
E, ao mesmo tempo,
é nada.
Não temos tempo.
Não temos agenda.
Não temos certezas.
Nas angústias é que nos
atordoamos
lembrando da vida que continua
reticente e vaga.
Através desse mar imenso
Meu pequeno coração tonteia.
Através do abismo abissal
Encontramos a iluminação.
A presença da esfinge que devora.
E num golpe ébrio
A sobriedade nos expulsa
da possibilidade de ser feliz,
do sonho que cai em crua realidade.
Joguei uma moeda na fonte.
Fiz um pedido secreto.
Escrevi na parede do gueto
A última palavra que me ocorreu
adeus meu amor do passado.
Adeus.