Peitoral

Há mares ainda por navegar.

Há caminhos ainda por percorrer.

Há portas ainda por abrir.

E tantas outras por fechar.

Lá fora o horizonte se espichou todo

bem diante da janela.

Fez dos olhos míopes

a luneta cruel.

O que me parecia tão longe

e inatingível

Estava bem ao meu lado.

E, em minha torpeza simplesmente

não percebi.

Mas, se passou o tempo.

As sombras do outono deixaram de

existir.

Há poucas árvores.

E poucos pássaros ainda cantam.

O silêncio da algaravia.

Repleto de murmuros fonéticos

e promessas poéticas

Torneavam a ladainha

Que meus ouvidos moucos

cismavam em acreditar.

Há vastos oceanos lá fora.

Como há vastas janelas lá fora.

Umas fechadas e outras entreabertas.

Abertas e libertinas.

A mostrar as intimidades aos

transeuntes

Só não mostram os segredos

Enterrados nesse lirismo peitoral.

Só não mostram amores confessos e perdidos.

Fragmentados por gestos esquecidos.

Só não mostram os desatinos

Que não conheceram os mares,

as portas e nem horizontes.

Viveram enclausurados na lágrima

que não verti.

Parti essa manhã antes de nascer do sol.

A luz viria mais tarde ao longo do caminhar.

Então, os passos se encharcariam

de dourado e de cor

E o calor lentamente tomaria conta

do corpo inerte e sem consolo.

Que sabe que o tempo é finito mas

ainda corre nas veias e sangram

em momentos de lucidez.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/06/2013
Código do texto: T4340623
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.