Peitoral
Há mares ainda por navegar.
Há caminhos ainda por percorrer.
Há portas ainda por abrir.
E tantas outras por fechar.
Lá fora o horizonte se espichou todo
bem diante da janela.
Fez dos olhos míopes
a luneta cruel.
O que me parecia tão longe
e inatingível
Estava bem ao meu lado.
E, em minha torpeza simplesmente
não percebi.
Mas, se passou o tempo.
As sombras do outono deixaram de
existir.
Há poucas árvores.
E poucos pássaros ainda cantam.
O silêncio da algaravia.
Repleto de murmuros fonéticos
e promessas poéticas
Torneavam a ladainha
Que meus ouvidos moucos
cismavam em acreditar.
Há vastos oceanos lá fora.
Como há vastas janelas lá fora.
Umas fechadas e outras entreabertas.
Abertas e libertinas.
A mostrar as intimidades aos
transeuntes
Só não mostram os segredos
Enterrados nesse lirismo peitoral.
Só não mostram amores confessos e perdidos.
Fragmentados por gestos esquecidos.
Só não mostram os desatinos
Que não conheceram os mares,
as portas e nem horizontes.
Viveram enclausurados na lágrima
que não verti.
Parti essa manhã antes de nascer do sol.
A luz viria mais tarde ao longo do caminhar.
Então, os passos se encharcariam
de dourado e de cor
E o calor lentamente tomaria conta
do corpo inerte e sem consolo.
Que sabe que o tempo é finito mas
ainda corre nas veias e sangram
em momentos de lucidez.