Comedido
Com todos os pecados
Rasgados e resguardados
Num fundo empoeirado
De uma gaveta vazia
Faço-me e desfaço-me
Vivendo destes cacos
Ferindo-me incansavelmente
Como uma tremenda hemorragia.
Num guizo estrangulado
Sem se importar que diabos
Passa-se além do mar,
Fico estatizado
Sem saber o que dizer,
O que fazer o que pensar... Seilá.
Um cuidado ferido
De pensar em deixar
Esquecer-me e prender-me
Além do horizonte.
Pensar em não mais ser-me,
Ser uma mente enferme
Onde não haja mais montes
nem mais “ondes”.
Ser apenas pecado consumado
Sem nenhum resquício de razão:
Ser aquilo tudo que eu havia desejado
Ser amor doente, ser pura perdição.
Mas não.
Todos são desejos resguardados
Viventes daquela gaveta
largados pelo empoeirado chão.