Prisioneira de mim
Procuro libertar-me
mas não consigo
tento de todas as maneiras
desvencilhar-me
das amarras do meu destino
mas de nada adianta
tudo em vão...eu não consigo!
Em vez de braceletes a me adornar
algemas reluzentes
impiedosamente
parecem apossar-se de meus punhos.
Meus pés?
há...meus pés!
quem me dera...
não se sentem libertos não
até estes, os tornozelos
também parecem presos
malditos grilhões!
cadê a chave?
Tento caminhar despreocupadamente
ando por lugares movimentados
enfrento o borburrinho
de ruas e calçadas
mas tudo...tudo em vão
parece até
que pesadas correntes
enroscam-se junto a meu corpo
aninham-se ajeitadamente
e nele permanecem
temerosas de me largar
ai de mim! não consigo mover-me!
Persistente que sou
continuo ansiosamente tentando
dobro esquinas
pela direita
pela esquerda
sigo em frente
vez que outra
páro um pouco
mas antes que dê mais passos
tapo com minhas mãos os meus olhos
para não ver...para não sentir...
Precavida que sou
retorno para meu caminho habitual
mas às margens deste
flores não vejo
seu colorido seu perfume
nem pensar!
mas o que seguidamente acontece
são espinhos a me espetar.
Apesar da sensação de prisioneira
tenho a ideia de comparecer
junto às grandes aglomerações
enfio-me em meio à multidão
e ali espremida
tento sentir-me
não mais sozinha
mas nada...nada de diferente acontece
continuo irremediavelmente só
Ai de mim! de que adianta
locomover-me por mil caminhos
se a solidão
faz junto a mim
sempre o mesmo trajeto
parece minha sombra...
onde está o sol?
Apesar da solidão teimar
em ser minha fiel companheira
sinto que ambas
estamos presas
dentro duma redoma de vidro
Olho em volta
e caio em mim
vejo a enorme desvantagem
em relação a outras pessoas
desesperadamente esperneio
me debato ali dentro
mas nada...
nada de conseguir romper o vidro
até parece inquebrável
intransponível
blindado com certeza...
Tento gritar
mas nem mesmo isso consigo
parece a voz me faltar
dá-me a sensação
de que estou amordaçada
continuo debatendo-me
mas acabo cansando...
Após um suspiro profundo
olho em volta
ai de mim, quanta dor!
quanto sufoco!
tudo continua ali
impregnado em mim
as algemas
os grilhões
a mordaça
as correntes e a redoma intacta
será que estão zombando de mim?
são sádicas?
Mas apesar disso tudo
o pior de tudo
é que ali dentro
estou eu
solitária e presa
presa dentro de mim mesma
ai de mim!