Choro contido
Todas as lágrimas que não chorei.
Desaguaram num infinito
Contido, dobrado e engavetado.
No alpendre da consciência.
Os remorsos que me corroeram.
Até o último naco.
A culpa sincera pelos dias, pelos pecados
sinceros do dia-a-dia.
Por simplesmente existir.
Os pássaros em revoada passando
Por cima da cidade vazia.
Pelo silêncio barulhento de almas em colidência.
Por falas e signos que se contradizem.
Por sinais e semântica que guerreiam
E deixam as reticências em poesias.
Todas as lágrimas que não verti.
Todas as vestes que não rasguei.
Todas as máscaras que não abandonei.
O rastro, o resquício e a truculência.
discreta dos olhares repressores.
Não tinha lugar no mundo para
O choro.
Justificável ou não,
é hora de ação.
A claquete acenava que o teatro
da vida não conhece pausa e nem
ensaio.
Era tudo de verdade.
O tempo todo, e sem tréguas.
Era tudo real, doído e sofrido.
Abandonada. Abandonável.
Rejeitada pela estória e
pela trama diabólica da genética.
Que se enrosca nos tecidos,
Nas pernas, nas almas e
marcam caminhos.
Poderia eu ter sido outra?
Poderia eu ter seguido outro caminho?
Feito outra opção?
Teria eu, como ser pensante,
Ir além do contexto e no
frescor da liberdade verdadeiramente escolher
a brisa ao invés do furação?
Escolher a chuva e não a tempestade?
Escolher o tremor mas não o terremoto?
Todos esses enigmas dormem
tranquilos e decifrados no inconsciente.
As tragédias estavam roteirizadas.
Em cada veia, em cada célula,
E, em cada sentimento.
E, todas as lágrimas que não verti.
Foram despejadas no
fosso sem fundo.
Na esquina da
saudade com a lucidez.