O mendigo e a jovem.

A cena se passa em Londres em meio ao século XIX. Onde um mendigo, caminhando serenamente pela rua, vislumbra uma belíssima jovem sentada no chão chorando.

O MENDIGO

Por que está a chorar, digníssima senhora?

Por que orvalhas a terra com as magoas do coração?

Poderei eu nesta incomoda hora

Velar-lhe a face com minha tremula mão?

A JOVEM

Não te preocupes, meu caro senhor.

O que me força o pranto não possui remédio,

Pois ao vagar pelo mundo fui ferida pelo amor

Quando nos olhos de meu amado só encontrei o tédio.

O MENDIGO

Sofrendo por amor quando és tão jovem?

Imagines se fosse, como eu, escravo da pobreza?

Sendo por todos os homens tratado com desdém

Como se a sujeira me causasse na aura a impureza.

A JOVEM

Podemos então pela dor sermos parentes

Na qual expressamos com lágrimas o peso de viver,

Tentando em frente a vida mostrar-lhe os dentes

Ate que um dia a morte venha nos envolver!

O MENDIGO

Mas será que ter a morte como abrigo

Poderá realmente minha alma acalmar?

Pois como posso eu suportar a dor de ser mendigo

Permitindo a cada dia um homem me pisotear?

A JOVEM

Teremos que nesse tempo aguentarmos o pranto

E perante o mundo nossa dor sufocar.

Estranho estais a ouvir este belo canto

Que facilmente consegue minha tristeza dispersar?

Não acredito que quem estais vindo é o meu amado

Prometendo dar o amor a quem nunca deu!

Levarei como ensino o que tínhamos conversado

Vou-me agora rapidamente! Adeus!

O MENDIGO

Partes me deixando apenas com o meu corpo.

Fui imprudente e deixei roubarem minha alma.

Eu que tanto tomei cuidado nesse tempo

Baixei minha guarda quando me senti em calma.

Se neste jogo sou apenas um simples pião

Sera que terá olhos que comigo se importe

Se eu calar eternamente o meu coração

Curando a minha dor com a misteriosa morte?!

Caio Follet
Enviado por Caio Follet em 27/04/2013
Reeditado em 09/08/2014
Código do texto: T4262813
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