abraço onipresente
como pude viver tanto tempo
sem esse abraço
pleno e onipresente
como pude estar tanto tempo
aqui sem verbalizar meu amor.
sem chamar seu nome
senão apenas com olhos
e gestos secretos...
como pude ver somente o que
há para se ver,
se eu ainda não pudia enxergar
por causa da ausência de luz
e nas mirabolantes trevas
eu sabia de cor
cada detalhe de teu rosto,
tua ruga, tua expressão, tua careta
sofrida, seu gemido lânguido e
sequioso
de uma só e reles reação minha
como pude passar por tudo
isto
superar a ausência,
a perda e,
depois a essa
estranha dormência que
transforma seres humanos em ígneas
pedras incandescentes
que rolam de dentro da alma...
e saem inexplicavelmente inexpressivas e mortas
como pude esquecer-me do afeto
da delicadeza, das flores do jardim,
e tudo ser assim tão ríspido,
prático, automático,
eletrônico, e absolutamente
tão duro...
fui tão dura comigo mesma,
dura caminhada,
duro passo até o cadafalso
onde amputei
um coração
de menina órfão
e frágil
para nascer guerreira e imortal