abraço onipresente

como pude viver tanto tempo

sem esse abraço

pleno e onipresente

como pude estar tanto tempo

aqui sem verbalizar meu amor.

sem chamar seu nome

senão apenas com olhos

e gestos secretos...

como pude ver somente o que

há para se ver,

se eu ainda não pudia enxergar

por causa da ausência de luz

e nas mirabolantes trevas

eu sabia de cor

cada detalhe de teu rosto,

tua ruga, tua expressão, tua careta

sofrida, seu gemido lânguido e

sequioso

de uma só e reles reação minha

como pude passar por tudo

isto

superar a ausência,

a perda e,

depois a essa

estranha dormência que

transforma seres humanos em ígneas

pedras incandescentes

que rolam de dentro da alma...

e saem inexplicavelmente inexpressivas e mortas

como pude esquecer-me do afeto

da delicadeza, das flores do jardim,

e tudo ser assim tão ríspido,

prático, automático,

eletrônico, e absolutamente

tão duro...

fui tão dura comigo mesma,

dura caminhada,

duro passo até o cadafalso

onde amputei

um coração

de menina órfão

e frágil

para nascer guerreira e imortal

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 25/03/2007
Código do texto: T425255
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