Ausência
Aonde eles estão?
Pior do que a dor,
É somente tê-la para conversar.
Conversar e saciar.
Querer e se viciar.
Prender e se calar.
Sofrer e se anestesiar.
Aonde Você está?
Sozinho não posso,
Eu não consigo ficar.
Se está por aí, manifeste-se!
As minhas portas sempre estarão abertas.
Minhas fraquezas foram travestidas por meros confortos ilusórios
E agora a desilusão tenta me aliviar.
Nesta terra de amargura, sinto vontade inevitável de também ser,
E pertencer, ao amargo.
Falaram-me sobre o paraíso.
Falaram-me sobre o amor incondicional.
Mas não passava de mais um afago de um inimigo banal.
Faça-me arrepender do que eu sempre fui.
Diga-me que agora tenha que me deter
Ou que tenha que deixar-me morrer.
A minha busca insaciável pela luz obscureceu-se
Pelo mais vil sentimento humano.
Não digo que desistirei.
Mas também digo que não mais procurarei.
Ainda sei que o céu estará sempre no mesmo lugar se eu dirigir a ele o meu olhar.
Sei bem que palavras verdadeiras tem o poder de me curar.
Mas o que devo fazer para poder me conter?
Agora toda essa angústia cobre-me
Com longos e pesados pedaços de pano.
Como posso não julgar-me insano?
Agora sinto a dor de uma perda.
Agora vejo que a dor de não ganhar
É o prato mais doce do fracassar.
À minha vida - e meu viver - peço-lhes sinceras desculpas:
Desculpas por ainda não viver pela fraqueza de meu querer.
Aqui, diante de mim e de sua ausência,
Clamo à ti que me ouviste de algum lugar que apareça
E diga-me que eu não sou capaz de chegar a um bom lugar.
Me odeie.
Me xingue.
Me apedreje.
Me humilhe.
Se puder, me mate e deixe-me no chão a sangrar.
Mas antes, por favor, apenas apareça...
... Para que eu possa olhar o seu rosto e sorrir,
Por ser o único amigo a me ver chorar.