Chuva de dores visíveis
Perdi a minha metade em uma chuva de dores visíveis,
imagens passavam em minha mente como um filme dramático,
e agora passo meus sábados em casa olhando para um céu escuro,
tentando entender como deixei para trás caminhos outrora certos,
como virei as costas àquelas que teriam me amado incondicionalmente,
mas minha arrogância imperou sobre minha sanidade,
o desafio da aventura, da novidade, do fogo de uma nova paixão,
me coloquei na beira de um abismo sem volta,
dancei meu suicídio como se estivesse em uma festa de ano novo,
me desencontrei de meus próprios sentimentos,
me desencantei de minhas poesias rimadas,
tornei-me um caçador de sonhos impossíveis,
até amargar meus próprios fracassos em uma solidão infinita,
e agora meus dias seguem automáticos na ausência de mim mesmo,
enquanto busco um sentido para justificar minha continuidade,
entre crises da minha consciência e de minha demência anunciada,
vou me fragmentando em pedaços espalhados pelo vento,
sinto o açoite de meus erros ao longo de caminhos mal escolhidos,
sangro o pulso cortado pelos cacos de vidro de minha vida,
metáforas para tristezas jamais consoladas pelo tempo,
lágrimas de uma melancolia que não se esvai nas ondas do destino,
assim ouço as risadas de uma ironia vingativa no sussurro da noite,
sombras achincalham minha vã tentativa de acender lampiões,
pessoas me dizem para ter cuidado com minha fragilidade exposta,
mas tudo que me prende me revolve e me destrói,
estou sendo corroído por ácidos internos de remorsos passados,
sem perdão, sem alento, sem esperança de um fim nesse tormento,
vago como uma casca oca de conteúdo, alma e coração...