Sincronia

Quatro velas queimam juntas num prato.

O silêncio é tanto que posso ouvir minha própria respiração

e o barulho do voo dos mosquitos.

Tudo é sincronia,

os grilos no quintal,

os carros na rua,

o sexo dos vizinhos,

O nada sobre minha cabeça.

Hoje, nem ao menos tenho com o que me distrair,

Os analgésicos já não fazem mais efeito.

Mas tudo bem. Esta noite, quase agradeço pela dor nos rins. Hoje ela me faz companhia.

Lá de cima, observam-me as nuvens vermelhas,

no céu sobre minha cabeça,

andam vagarosamente,

como as prostitutas da 9 de Julho.

Vez ou outra mandam um pingo gelado sobre mim para me manter acordado.

E assim eu fico.

Nem ao menos meu computador está ao meu alcance hoje.

Risco no papel, em vez disso, com minha caligrafia horrível.

De vez em quando tenho uns calafrios,

e sinto um calor subir a garganta.

Há algo de errado comigo,

além da solidão, além da minha recente misantropia e das pedras nos rins.

Tem algo de muito errado comigo.

Algo muito errado, e digo, mesmo antes da ultima mulher ter me deixado, já vinha me sentindo assim.

Hoje isso parece muito pior.

Talvez porque o colega com quem divido a casa,

tenha esquecido de pagar a conta de energia e me deixado no escuro.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 10/04/2013
Reeditado em 17/06/2013
Código do texto: T4234354
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