Atualidade
Sou um escritor claustrofóbico às avessas,
Agorafóbico, para ser mais preciso.
Assustam-me espaços abertos,
assusta-me a extensão de todas as possibilidades.
Ultimamente, não me agrada sair à rua. Não me agrada ver o mundo.
Tenho preferido me trancar em meu quarto,
viver confinado num universo com limites bem estabelecidos,
Eu tenho preferido ficar em casa fermentando o meu passado, misturado ao suor das mulheres que entram e saem da minha vida sem nada deixar,
sempre levando de mim,
mais do que posso me dar ao luxo de perder.
Meu céu é o teto,
minha cama é o mar azul em que flutuo,
dias e noites, seguidamente,
enquanto escrevo sobre mesmas ideias,
as mesmas histórias,
as mesmas dores, reutilizadas, recicladas, refeitas...
Revivo-as, assim, mesmo como um pálido reflexo,
ou um filme em preto e branco, com meus sentidos anestesiados.
Não sinto,
não sofro,
não vivo.