De novo
De novo essa manhã
Fosca e sem sol
Pesadas nuvens esfumaçam
o horizonte.
O orvalho lacrimeja a vida
Nas pétalas da rosa do jardim
É uma benção e um lamento.
De novo essa manhã
Essa culpa latejando em
meu peito vazio de amor
Plexo dolorido de afetos frustrados.
Espero o raio sol
Como uma possível tábua de salvação
E me arremesso nos devaneios
Que esparram minha alma
Em todos os cantos
Há um pouco de mim espalhado
Por toda casa
Nos livros, nos chinelos
E no olhar incessante das fotografias.
Abro a janela
Há cotovia lá fora.
Maritacas gritam desesperadas
Pelo céu adentro
Roubam do azul o silêncio celestial.
Lá, ao fundo da paisagem,
Há a localização geográfica de você
Tão perto e tão inatingível.
Os abismos mais próximos
São aqueles mais profundos...
A areia movediça nos engole
Com paixão e requinte
A solidão nos protege
do outro.
Do sentimento do outro.
De um mundo que de manhã
Chora as ausências em reticências
Que recorta o medo,
Que cola a existência num corpo
E remenda ideias no entardecer
Não solene de um domingo.