Para quê?
Para quem sabe ouvir
A melodia que escorre pelo olhar
Para quem sabe ouvir
A síncope ritmada de um coração
Para quem sabe ouvir os segredos do mar,
Do vento...
A nos sussurrar as histórias e as estórias
Para quem sabe sentir
As esporas da vida a lhes fincarem
A alma
E sangrar, a latejar e a gotejar como chuva
Rubra mistura de dor, ódio e solidão.
Para quem sabe que o cais é prisão
E o oceano uma falsa liberdade
Para quem sabe que precise de você
Na exata medida em que do que sinto
Como uma navalha fina, silenciosa e contundente
A escavar na pele um orifício de rancor e morte
Quantas mortes ainda terei que querer
Para entender o sentido da vida...
Matam-se sentimentos
Mata-se auto-estima
Mata-se paz
Afogada num mar de espinho...
Quantas mortes serão necessárias para provar
A inutilidade da guerra
Quantas mortes serão contabilizadas.
Na estatística fria dos homens...
O homem tem se desumanizado
Pouco a pouco, não atinge a perfeição.
da máquina e nem tem o poder de um deus...
Minhas tintas colorem aquilo que é indizível
Que é invisível aos que apenas vêem,
Sem enxergar...
Sem se embriagar da essência de tudo,
Sem se sentir pequeno e absurdo.
Pessoa já vociferava: - São todos príncipes !
Arre! Estou farta de príncipes, de sapos, de lendas.
Quero estórias vivas, a emoção violenta.
A trajetória torta numa curva perigosa
Perigo mesmo é toda essa alienação reinante,
É toda a surdez desumanizante,
É todo esse sangue derramado a se encontrar com lágrimas
Sem tingir de cor de rosa as páginas de nossa memória.
Para quê afinal?
Gisele Leite