A areia e o mar

E eu queria ser mar... e beijar-te.

Mas consigo apenas ser os grãos de areia soltos... a praia.

Areia branca - mármore frio.

Intacto. Insensível aos beijos teus.

E eu queria ser mar... e abraçar-te.

Mas consigo apenas receber-te.

Sem mexer-me... espalhada em tantos grãos de areia.

E eu espero-te sempre. Estupidamente imóvel.

E eu queria ser mar... e invadir-te a alma e banhar os cabelos teus.

Mas consigo apenas te ver passar... os cabelos ao vento.

Pisa-me sobre mim... e permaneço muda e lívida.

E eu queria ser mar... e banhar todas as mágoas com um abraço.

Mas consigo apenas deixar a ventania soprar...

A apagar o que os namorados escrevem sobre mim - areia.

E eu queria ser mar... e tu, barquinho meu...

E eu te ninaria numa marolinha de amores...

Sem âncoras. Eu não te quereria preso à mim.

E eu queria ser mar... e ser a imensidão tua.

Mas consigo apenas ser a agonia tua... e essa inércia minha...

A depender dos ventos que sopram-me do lugar.

E nem quero eu mexer-me.

E sendo eu areia... grãos espalhados em tantas por aí...

Contento-me com o teu esporádico eu... meu mar...

A pousar levemente sobre mim... a invadir-me de quando em vez.

E eu te permito a ausênca do limite...

Haja que tu... mar meu...

Foste criado para viver sem qualquer limite.

E eu queria ser mar... como tu.

Mas tenho a desventura de apenas esperar-te...

Ou ver-te passar ao longe... mar meu...

E ajunto eu conchinhas... para enfeitar o nosso amor.

E a lua... Ah... a lua...

A única testemunha que temos desse nosso amor.

E ela afasta-me de ti de quando em vez... suspende-te no ar.

E some do infinito.

E fico eu a trançar as minhas conchinhas todas...

Com linhas de sargaço e lágrimas salgadas minhas...

E gotas do mar... que vem do amor teu.

Karla Mello

24 de Março de 2013

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 24/03/2013
Reeditado em 24/03/2013
Código do texto: T4204660
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