Mar Aberto.

Blog: Patricia Porto-Sobre Pétalas e Preces (pporto.blogspot.com.br)

Se sou triste, me deixe contemplar os barcos

enquanto perdura o Sol.

Saiba que não sou triste de nascença

ou por vocação do desejo.

Vim entristecendo lentamente com as coisas velhas e pequenas,

depois com as coisas tolas do mundo,

com as tolhices humanas,

as que nos tolhem a esperança

como o fel que nos rouba a cantiga,

como o fel da maldade que mata.

Feche a porta, pois já sinto o frio do inverno.

Tomemos esse chá e falemos de suas amenidades.

Se sou triste, me deixe a chave da tua descoberta.

Não estanque minhas feridas, não me proteja de mim.

Se não te vou ver, abranda o mar, acalma a ira das pedras.

Se não te posso fazer feliz, meu tão amado,

não te posso iludir com sentenças de bonança.

Se salgaram meu peito em aberto, se trancaram meus olhos,

se entenderam mal minhas palavras, te afastas pelo teu bem.

Hoje na rua vi um cão perdido e solitário e não o pude levar pra casa,

não lhe dei abrigo ou sequer gesto de amparo.

Dobrei a esquina do vazio em estado de horror,

levando o cão dentro de mim mais assustado.

Se me queres livre, oculta de mim tua presença,

porque me fizeram tão triste, minha alma partida,

que nada trago de espantos.

Ao lado dos barcos sigo e me anula, adultera

pensar existir sem essa solidão.

Patricia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 16/03/2013
Código do texto: T4191907
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