Hoje

Meu quarto cheira a cerveja...

e lixo.

Não... Não é lixo.

Meu quarto cheira a passado.

Cheira.

Porque eu tenho vivido de passado

transpirado,

deixo um rastro de passado por onde ando,

como uma lesma,

como um caramujo que carrega a casa nas costas,

eu carrego meu passado para onde vou.

Não há nada de novo em minha vida, desde...

não sei.

Tenho bebido frequentemente,

escrito péssimos poemas,

faltado ao trabalho.

Como mal, durmo mal,

esqueço de dar comida a cachorra.

Queria esquecer meu nome,

queria esquecer os últimos seis meses de minha vida.

simplesmente apagá-los... Backspace,

Shift + Del.

Tenho me embriagado de Cerveja, Bukowski, Led Zeppelin e Johnny Cash.

Bebo, ouço, escrevo e apago.

Tenho vivido neste ciclo nos últimos dias.

O telefone toca, 10 da noite...

sinto vontade de largá-lo no vaso sanitário e dar descarga.

Deixo tocar.

Mantenho-me bêbado até o sono me levar...

O interfone toca, 9 da manhã...

“Você teria tempo para ouvir a palavra de Jesus?”

Finjo que não ouvi e volto para cama.

O dias começam depois das 11 para mim.

Vou ao laboratório...

Por algum tempo, tenho paz,

toda paz que a biologia molecular pode dar a um homem.

Fico no trabalho até as oito, volto para casa a pé.

Às vezes me vejo falando só no caminho.

Pessoas me olham,

não as vejo.

eu ando.

ando.

ando.

Quando isso vai acabar?

Hoje não, eu sei

Assim sendo,

eu bebo...

Bebo.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 09/03/2013
Reeditado em 09/03/2013
Código do texto: T4179057
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