A ilusão de cada dia
Faltou tempo ou coisa que o valha
Eis uma desculpa surrada e velha;
Que se usa pra mascarar a falha,
Como uma asneira que dá na telha...
O que faltou foi alvo pro míssil,
Se há vontade o tempo fica dócil,
E os meios se ajeitam bem fácil;
Tempo há muito, que diga o fóssil,
O que vige é o desprezo mísero,
Sem esmolas esse pobre lázaro;
Que busca por preço módico,
A receita de um velho médico...
Solidão espaçosa de cama e mesa,
Segue à risca o que desdita reza;
Esperança a isca que detém a presa,
Pior sem ela, aí que a sorte pesa...
E peso basta já que a força é curta,
Melhor deixar entreaberta a porta;
Uma hora essa mesmice me surta,
Pois, cada dia, uma ilusão é morta...