Um violão atrás da porta...

Porque deixastes esse violão atrás da porta?

Porque não levastes contigo toda a melodia?

Porque deixastes esse fio de esperança irrisório?

Agora me sento todas as tardes com uma tola ilusão,

ressentindo a difícil missão de tentar acreditar em algo,

olhando para um horizonte que não me responde as aflições,

sentindo as lágrimas descerem por minha barba não feita,

percorrendo meus próprios espinhos do espírito,

orando uma prece silenciosa por sua volta,

ouvindo em certos momentos o dedilhar do vento,

como se as cordas de aço tocassem notas de acalento...

.

Porque deixastes esse violão como herança de um tempo sem volta?

Porque não levastes contigo toda a sonoridade de teus versos?

Porque deixastes essa janela aberta para um oceano sem navios?

Agora me sento todas as noites buscando estrelas cadentes,

remoendo sentimentos confusos em um céu escuro,

sentindo meu coração doer no bater das ondas nos rochedos,

afogando meus sonhos em redemoinhos solitários,

rezando um terço de madeira por seu retorno,

escutando à cada cochilo a música que nos embalava,

como se a partitura que nos unia nunca houvesse queimado...

.

Porque deixastes esse violão sem ter quem possa tocá-lo?

Porque não levastes contigo esse amor que me tortura?

Porque deixaste esse imenso vazio em minha existência?

Agora me sento todas as manhãs para ver o nascer do sol,

respirando a brisa de sensações há muito esquecidas,

sentindo meu interior desmoronar como uma caverna sem saída,

abafando meus gritos por salvação e redenção,

suplicando para que lembre-se de olhar para trás,

imaginando se aquela nota musical entoada,

é apenas um delírio de quem enlouqueceu de tanto amar...