Sentado na Escuridão
Sou imperfeito como um cão
Rosnando na multidão
Cansado
Tão mais perfeito que nem dão
Por mim no meu colchão
Deitado
Dentro do peito o perdão
Na boca o coração
Calado
Estou satisfeito no salão
Sendo de mão em mão
Levado
Não sigo direito a opinião
Só tenho na contra-mão
Andado
E do preceito a pretensão
Ter de uma vida a razão
Buscado
Não vale o conceito do sermão
Nem a vigília pra ser tão
Amado
Tenho o despeito do clarão
Se estou na escuridão
Sentado
Chuva com jeito de verão
Deixa o meu portão
Molhado
E deixa nos olhos da estação
O que se pede, mas não
É dado
Rio, 21/12/2004