Os olhos de Gutemberg.

Blog:"Patrícia Porto - Sobre Pétalas e Preces" (pporto.blogspot.com.br)

Eu precisava comprar pilhas,

mas havia muita pressa nas ruas...

E o asfalto queimava a minha sola de pé.

Muita pressa nos olhos,

e nenhuma lágrima indiscreta.

Muita pressa no sangue, escaldando no

solo de asfalto, pardo...

Corpos empilhados na horizontal

e minhas pilhas do outro lado da rua

no meu consumo diário de energia.

Muita pressa nos autos, nos baixos,

nos sinais eletrizados,

muita pressa de sentir, muita pressa de matar

a hora matinal... a hora marginal.

Na margem do asfalto fervendo o solo

para bailarinos loucos que vivem de lentidão

como as frágeis margaridas, o incunábulo.

Os viadutos com pressa, a vida chapada,

o teto escuro com pressa...

Pressa de dizer que o melhor é partir,

pressa de escrever nomes novos nos corpos.

Pressa de comer. Tudo so fast.

Pressa de festa, de viver no instantâneo,

o miojo da vida, o calabouço, a cloaca,

o colapso, o conluio, a cocaína, a trapaça,

a cidadela desconstruída...

A traça, o troço, o rádio, o rádio de pilha

jazz morto, estirado no asfalto.

Patrícia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 18/01/2013
Código do texto: T4091855
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