Os olhos de Gutemberg.
Blog:"Patrícia Porto - Sobre Pétalas e Preces" (pporto.blogspot.com.br)
Eu precisava comprar pilhas,
mas havia muita pressa nas ruas...
E o asfalto queimava a minha sola de pé.
Muita pressa nos olhos,
e nenhuma lágrima indiscreta.
Muita pressa no sangue, escaldando no
solo de asfalto, pardo...
Corpos empilhados na horizontal
e minhas pilhas do outro lado da rua
no meu consumo diário de energia.
Muita pressa nos autos, nos baixos,
nos sinais eletrizados,
muita pressa de sentir, muita pressa de matar
a hora matinal... a hora marginal.
Na margem do asfalto fervendo o solo
para bailarinos loucos que vivem de lentidão
como as frágeis margaridas, o incunábulo.
Os viadutos com pressa, a vida chapada,
o teto escuro com pressa...
Pressa de dizer que o melhor é partir,
pressa de escrever nomes novos nos corpos.
Pressa de comer. Tudo so fast.
Pressa de festa, de viver no instantâneo,
o miojo da vida, o calabouço, a cloaca,
o colapso, o conluio, a cocaína, a trapaça,
a cidadela desconstruída...
A traça, o troço, o rádio, o rádio de pilha
jazz morto, estirado no asfalto.
Patrícia Porto