Estranhos

Eu sempre lhe disse que eu era um estranho

E que este lugar não era meu

Que eu passaria alguns momentos com você

Daria algumas risadas, gastaria algumas horas

E que sairia pela madrugada.

Que você me procuraria mas jamais acharia novamente

Que lentamente começaria a ficar demente pela falta de alguém,

Alguém que talvez nem tenha existido

Apenas mais uma memória que você criou

Para tapar a solidão que se instalou em seu coração

Passaria os dias abraçada aos porta-retratos vazios

Com os olhos cheios de lágrimas

Tentando de fato acreditar que algo algum dia existiu

Que nem tudo na sua vida é uma grande mentira.

Mas você sabe, que ao olhar pela janela

Você verá, que o sol não nasceu mais para você

E que tudo que lhe restou foram suas falsas memórias

Estas que você se agarra para não perder

As únicas coisas que ainda completam o que existe de você

Falsas ou não, elas estão lá quando você precisou

Quando gritou e chorou, e ninguém jamais escutou

Eram nelas que você se escorava quando tudo se acabava

Nas mentiras que você mesma inventou

Para justificar a estranha que você se tornou.

Abraçou a solidão e se tornou parte dela.

Parte das sobras, parte da melancolia.

Da melancolia de cada dia.

Todo dia.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 17/12/2012
Código do texto: T4039601
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