Estranhos
Eu sempre lhe disse que eu era um estranho
E que este lugar não era meu
Que eu passaria alguns momentos com você
Daria algumas risadas, gastaria algumas horas
E que sairia pela madrugada.
Que você me procuraria mas jamais acharia novamente
Que lentamente começaria a ficar demente pela falta de alguém,
Alguém que talvez nem tenha existido
Apenas mais uma memória que você criou
Para tapar a solidão que se instalou em seu coração
Passaria os dias abraçada aos porta-retratos vazios
Com os olhos cheios de lágrimas
Tentando de fato acreditar que algo algum dia existiu
Que nem tudo na sua vida é uma grande mentira.
Mas você sabe, que ao olhar pela janela
Você verá, que o sol não nasceu mais para você
E que tudo que lhe restou foram suas falsas memórias
Estas que você se agarra para não perder
As únicas coisas que ainda completam o que existe de você
Falsas ou não, elas estão lá quando você precisou
Quando gritou e chorou, e ninguém jamais escutou
Eram nelas que você se escorava quando tudo se acabava
Nas mentiras que você mesma inventou
Para justificar a estranha que você se tornou.
Abraçou a solidão e se tornou parte dela.
Parte das sobras, parte da melancolia.
Da melancolia de cada dia.
Todo dia.