Pinte a Vida com o Seu Sentimento
As cores, Deus as inventou quando menino, por certo.
E brincava com elas com a mesma paixão e sem cerimônia de quem, um dia, ainda faria tudo o que existe.
Misturando umas às outras e esparramando-as pelo firmamento, punha-se a imaginar planícies e bichos, montanhas e mar, passarinhos e canções, poentes e pirulitos.
Às vezes, quando não saia a correr com as luzes pelo infinito, passava manhãs inteiras, fechado, em silêncio, em seu universo, a encher-se de luz, a cada nova cor que descobria.
Ora lhe pareciam solenes como deveriam ser as florestas, ora preciosas como desejava pérolas e joaninhas.
Mas o que mais o encantava nas cores era o fato de serem cores simplesmente e, todavia, brincarem com seus olhos, darem asas a seus sonhos e povoarem sua alma de sentimentos.
Se um dia criasse o mundo, ele pensava, haveria de dar-lhe cores.
E se houvessem pessoas nesse mundo, haveria de dar a elas a capacidade de perceberem, nas cores, a mesma magia que ele testemunhava.
Percebê-las significaria terem as cores dentro delas: almas coloridas, corações de aquarela.
Assim saberiam reconhecer na própria vida toda maravilha que ela encerra.
Outra vez, como num sonho, teve uma visão de arco-íris.
As próprias pessoas teriam o dom
de serem cores.
E de alegrarem-se umas às outras,
de encantarem-se umas às outras,
de amarem-se em gestos de luz.
A felicidade seria a tradução desse desejo.
Ah como ele gostaria de ver, um dia,
todas as pessoas felizes.
Haveria cor em profusão,
luzes em toda a terra,
nunca mais a escuridão.
Assim seja menino.