UM OCASO A SOLUÇAR

Ao cair da noite em mim a vida teima em não perecer.
No entanto, já não há ressignificado no viver
e o meu coração deixa de falar. Emudece.
O corpo destoa, estremece e minha alma para de pulsar.
O silêncio da noite e a cor da solidão me fazem extático.
E ao anoitecer já não me vem a vida, na inércia das horas.
Já não posso mais mensurar o tamanho do meu sonhar,
pois que já não mais existe sonhar, nem alvorecer.
Assombram-me as assombrações da noite.
Tudo é nefasto no crepúsculo que impregna de vicissitudes o pensar.
Tudo é vagar e açoite. Sorriso e esperança já não há.
E só me resta o relembrar das tardes fagueiras que repousa em alguma
folha empoeirada do tempo
e das manhãs desbotadas que esvoaçam sem destino ao sabor do
vento.
Oh como é triste o fenecer dos dias - crepúsculo opaco, sem viveza,
esmaecido, desnudo de poesia, como música fugidia, a se apagar,
onde até a saudade volatiza-se num eco de dor e lamento de um ocaso a
soluçar !